segunda-feira

O zelador;

'' Sabe Zé, no começo doeu não sentir nada, mas eu consegui, eu não sinto nada, nada. Uns vem, uns vão. As garrafas tão lá, ao lado do lixo. As cinzas saem dançando por aí, as minhas vai junto. No dia seguinte eu acordo, tomo um banho, passo protetor solar, sento na minha varanda com o meu jornalzinho e ó: nada. Nadinha. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda Zé, mas ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela. Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não tenho mais alma nenhuma. Já era Zé. É isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou um ninja. Bate aqui no meu peito Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço Zé? Desculpa. Todos são outros. Porque o de verdade Zé, o de verdade não existe. A gente chora, escreve lá umas poesias profundas, chora, mas um dia a gente acorda e descobre que esse aí não existe não. Amanhã é sexta, um novo dia. Um novo outro qualquer. Eu queria te dizer que eu sinto muito, Zé. Mas eu não posso te dizer isso porque a verdade é que eu não sinto mais nada. Nadinha, Zé.''

Percebi que estou imerso em desconfiança. Mais chato, mais seco, atento, e um tanto egoísta.

Pois cansei de ser a parte que corre atrás de fazer o bem pro outro e ser meio só, não tendo muito "feedback construtivo". Agora se não tratou bem, eu saio. Não teve "mimo" de volta, atenção dispensada, conversas e colo, e/ou sinceridade.. até meu fi.
Ainda sim, dou passos procurando um par de pés pra esquentar os meus. Mas a cada passo que dou, seguro meu coração bem proximo da razão e sigo a passos ligeiros e curtos, - quase sustos!- com chances de voltar caso dê merda. Mas eu sigo. Acho fraqueza de espírito não tentar nem pra ver aonde dará pé. Você não sabe só de olhar. Nunca. Mas ninguém mandou também: antes eu era aberto 24 horas pra uma paixão, uma amizade, uma cumplicidade e tals.

Não mais.

Como um gato escaldado,agora eu pulo ao menor som de perigo repetido.
Logo, quem me tiver vai ser bem sutil e bacana, ou não terá. É, hora de achar que eu valho mesmo algum esforço.

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